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  • Foto do escritorEliane Silva

O estilo emocional do cérebro

Como o Funcionamento Cerebral Afeta a Sua Maneira de Pensar, Sentir e Viver


O estilo emocional de cada pessoa é único, como são as impressões digitais. Ele determina como você reage diante das circunstâncias da vida. Desenvolver áreas de especialização através da repetição, como tocar piano ou dirigir um taxi, aumenta a atividade e os padrões nas áreas correspondentes do cérebro. Este aumento ocorre também quando você pratica as suas habilidades virtualmente, porque o cérebro responde aos inputs tanto do mundo externo como do interno. É possível pensar virtualmente e alterar o seu estilo emocional através de esforços intencionais.

“O estilo emocional é governado por circuitos específicos e identificáveis do cérebro e podem ser medidos através de métodos objetivos de laboratório.”

Os cientistas agora reconhecem que as emoções constituem um elemento importante da mente. Cinco emoções básicas, “felicidade, tristeza, raiva, medo e nojo”, geram todas as mesmas expressões faciais correspondentes em todo o mundo. As emoções negativas se correlacionam com o aumento da atividade na área frontal direita do cérebro, enquanto as emoções positivas com a atividade na área frontal esquerda.


As Seis Dimensões

O estilo emocional tem seis dimensões. O comportamento individual é constituído dentro dessas dimensões, formando o estilo único e singular de cada pessoa. Os neurologistas são capazes de associar as dimensões a um circuito neural específico no cérebro. Cada dimensão se manifesta em diferentes graus, de um extremo (ou polo) a outro.

  1. Resiliência – Esta mede a sua capacidade de se recuperar das adversidades, uma capacidade que varia de pessoa para pessoa. As adversidades diferem em força: podem ir desde uma multa de estacionamento à morte de um ente querido. O tempo necessário para se recuperar de um incidente adverso difere conforme o indivíduo e a gravidade do evento. Os de “recuperação lenta” passam o dia “ruminando”, sem perceberem que ainda estão chateados com uma discussão que tiveram pela manhã.

  2. Atitude – As pessoas otimistas, extrovertidas e positivas, que têm uma personalidade “ensolarada”, parecem sempre felizes, não importa o que esteja acontecendo em suas vidas. Elas procuram manter uma posição positiva no setor da atitude, ao passo que uma pessoa melancólica que não consegue conservar um sentimento de felicidade por muito tempo se mantém mais próxima ao polo da atitude negativa.

  3. Intuição social – Você já está de saída quando um amigo aparece e começa a contar uma história interminável, alheio ao fato de que você está com pressa. O seu amigo, incapaz de ler os seus sinais não-verbais, encontra-se no polo “confuso” da dimensão “intuição social” enquanto as pessoas socialmente intuitivas conseguem ler a linguagem corporal em um piscar de olhos e saberiam distinguir se você deseja ou não estender a conversa.

  4. Auto percepção – Algumas pessoas não estão conscientes dos seus próprios sentimentos. Elas podem levar dias para perceberem que estão com raiva ou frustradas e têm agido de acordo com essas emoções. Tais pessoas têm baixa auto percepção. As pessoas com elevada auto percepção possuem uma maior empatia, porque conseguem sentir as dores das outras pessoas. É por isso que a enfermagem, o serviço social e outras áreas que exigem grande empatia potencializam o esgotamento emocional.

  5. Sensibilidade ao contexto – Muitos sabem qual comportamento é mais apropriado em situações diferentes, mas alguns parecem ignorar os contextos sociais.

  6. Atenção – Você se distrai facilmente ou consegue se concentrar nas tarefas, mesmo que a sua vida pessoal esteja uma bagunça?

“Uma das descobertas mais significativas e consistentes na medicina comportamental é a relação entre as emoções positivas e a saúde.”

Uma vez que as emoções são baseadas na atividade do cérebro, pode ser mais útil abordá-las segundo as seis dimensões do que categorizá-las de acordo com os tipos de personalidade tradicionais. Por exemplo, a intuição social se origina especificamente em uma área de pouca atividade do cérebro, o giro fusiforme, onde também ocorre o reconhecimento facial.


A Evolução do Estilo Emocional

Estudos com gêmeos mostram que alguns traços emocionais têm uma base sólida na genética. A timidez, a sociabilidade e a impulsividade têm bases genéticas e correspondem a sua posição nos setores de intuição social e atenção. Antes da década de 1990, os cientistas pensavam que os traços genéticos eram fixos, da mesma forma que características físicas como a cor dos olhos, e não mudariam durante a vida. Por exemplo, se você nascesse tímido, seria sempre tímido. Mas descobertas mais recentes sobre a genética mostram que as pessoas ativam ou desativam os traços genéticos de acordo com seus ambientes externos. Estudos longitudinais com crianças de três a nove anos mostram que a inibição comportamental, a base genética da timidez, não é programada em uma pessoa. O cérebro pode mudar. O temperamento aos três anos não dita o temperamento nos anos posteriores.


O Estilo Emocional e a Saúde

Os estilos emocionais têm consequências fisiológicas. A medicina comportamental estuda a forma como as emoções humanas afetam a saúde física. Pessoas socialmente isoladas têm níveis mais altos de hormônios do estresse e são mais suscetíveis à gripe. No entanto, forçar alguém que esteja confortável com o isolamento social a se tornar sociável causaria mais estresse. Esta conexão funciona nos dois sentidos: o corpo também influencia o cérebro. As correlações entre os padrões específicos do cérebro e os efeitos fisiológicos não foram ainda bem estudados. Uma melhor compreensão da relação corpo-mente e o seu papel nas doenças abre portas para novos tratamentos.

“As pessoas diferem radicalmente na forma como sintonizam às sugestões sociais não-verbais.”

A ciência tem investigado extensivamente os efeitos da raiva, ansiedade, estresse e depressão, mas só recentemente pesquisas têm incidido sobre as emoções positivas, explorando, por exemplo, como a alegria e a excitação afetam a saúde.

Os pesquisadores têm acumulado rapidamente evidências de correlações fortes entre as emoções positivas e a saúde física. Entre essas correlações, os estudos revelam menor incidência de derrames, menores taxas de retorno de pacientes cardíacos aos hospitais e maior sucesso com a fertilização assistida. Outro estudo mostra que as pessoas com altos níveis de emoções positivas são mais capazes de repelir resfriados.

“Algumas pessoas têm dificuldade em ‘sentir’ os seus sentimentos.”

Os marcadores biológicos indicam uma variedade de características físicas que definem os estados saudáveis e não saudáveis; igualmente, alguns marcadores indicam estilos emocionais saudáveis e não saudáveis. No entanto, o estilo emocional de cada pessoa é único e nenhum estilo em particular é superior a outro. Por exemplo, as grandes conquistas tecnológicas se devem, provavelmente, grande parte às pessoas que se sentem mais confortáveis com máquinas do que com pessoas. Da mesma forma que os números que indicam um nível de colesterol saudável vêm mudando com o progresso do conhecimento científico, assim também acontece com a compreensão do estilo emocional. Você não precisa medir a função pulmonar para descobrir que não está saudável, se lhe falta fôlego para subir algumas escadas. Se o seu estilo emocional impede você de sentir felicidade ou alcançar seus objetivos, é hora de tentar mudá-lo. Em alguns casos de distúrbios emocionais, a ativação comportamental apresenta uma taxa de recidiva menor do que o tratamento com medicação.


Os Extremos dos Estilos Emocionais

A psiquiatria divide tradicionalmente os transtornos de personalidade e doenças mentais em categorias, listando 365 doenças diferentes. Para obter uma melhor abordagem ao aplicar as seis dimensões do estilo emocional para descrever os comportamentos, utilize toda a amplitude de cada dimensão, cobrindo desde os extremos positivos até os negativos.

“Elas têm dificuldade em avaliar as situações de forma realista e o seu excesso de otimismo faz com que tomem decisões insensatas.”

Estudos com pacientes deprimidos revelam a presença de diferentes variedades de depressão e cada uma delas pode responder melhor a um tratamento diferente e especializado. Por exemplo, um grupo de pessoas deprimidas pode apresentar evidências de recuperação lenta diante da adversidade, na dimensão da resiliência. Isso significa que uma vez abatidas, elas sentem grande dificuldade em mudar para um clima mais positivo. Outras podem se sentir bem após um evento positivo, mas não conseguem sustentar essas emoções otimistas. Os cientistas tentam conectar esses transtornos às bases neurológicas para que possam conceber terapias, como o treinamento cognitivo, alterando assim tais padrões. Em alguns destes casos, a ativação comportamental pode ser uma terapia eficaz e não farmacológica. Alguns pacientes são ensinados a identificar e buscar tarefas prazerosas e inventar desafios positivos para derrotar os pensamentos negativos. Se você pensar, “Eu sou um fracassado”, contra-ataque essa mensagem negativa com, por exemplo, “Eu concluí a minha formação profissional” e outros exemplos das suas realizações tangíveis.


A Neuroplasticidade

Ao contrário do que se acreditou por décadas, estudos recentes mostram que o cérebro é bastante plástico. O comportamento neuronal não é imutável, mas pode ser alterado com o tempo. “O circuito da preocupação”, composto pelo córtex orbito-frontal e pelo corpo estriado do cérebro, é ativado nas pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). O uso da técnica budista da consciência plena, em que uma pessoa permanece ciente de todos os estímulos dos seus sentidos e mente, mas sem reagir a eles, pode ajudar os pacientes com TOC a controlarem a doença. Um paciente em um estado de preocupação obsessiva pode dizer a si próprio: “Isso é apenas o meu circuito de preocupação”. Desta forma, as pessoas podem alterar seus estilos emocionais através do treinamento mental.

“Os pacientes aprendem a reconhecer o seu hábito de criar catástrofes, de transformar reveses do cotidiano em calamidades e com essas habilidades cognitivas podem sentir tristeza e experimentar decepção sem caírem no abismo da depressão.”

Outras abordagens terapêuticas investigadas incluem a redução do estresse com base na consciência, a qual aumenta a atividade do córtex pré-frontal esquerdo, um marcador da emoção positiva. Os cientistas estão investigando os benefícios da meditação da compaixão, a qual também constrói uma atitude mais positiva e enfatiza a empatia. Nesta prática, você foca a sua atenção em uma pessoa amada e deseja que ela se livre do sofrimento.

“O cuidado e a diligência refreiam esses hábitos mentais, aproveitando a plasticidade do cérebro para criar novas conexões, fortalecer as antigas e enfraquecer outras.”

Talvez a sua atitude seja positiva demais e você seja incapaz de resistir às tentações atuais, porque acredita que as coisas sempre acabem bem. Para sustentar uma atitude positiva por um longo período de tempo, ao mesmo tempo em que resiste à atração das gratificações instantâneas, construa conexões neurais que sustentem a sua capacidade de planejar com antecedência. Quando tentado por um ganho de curto prazo (comer uma fatia de torta, por exemplo) visualize com detalhes o seu objetivo de longo prazo, que é perder peso. Imagine uma recompensa diferente, como a compra de um par menor de calças jeans. E não se esqueça da recompensa, quando for a hora.

“Os sistemas de atenção do cérebro podem ser treinados.”

Alterar o seu ambiente também ajuda na resiliência. Se você for lento em se recuperar, aprenda a se afastar do local de um revés, como sair da sala onde você acabou de ter uma briga. Para manter ou construir a sua empatia, vá a lugares onde acontecem coisas boas.

Para aprimorar a sua intuição social, observe as pessoas em atitude de meditação. Veja se as mensagens estampadas nos rostos das pessoas correspondem ao que dizem de verdade ou ao que os seus tons de voz e linguagem corporal deixam transparecer. É possível ativar a “terapia do bem-estar” deslocando a sua atitude para o lado positivo. Três vezes por dia, anote um dos seus traços pessoais positivos e observe uma característica positiva de alguém que você conheça. Diga “muito obrigado” regularmente.


Observe e elogie as realizações das outras pessoas. Integre essas práticas na sua rotina para manter aquilo que você já conquistou. Avalie a sua atitude semanalmente e celebre os seus progressos.


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