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  • Foto do escritorEliane Silva

Ansiedade

Como enfrentar o mal do século


Um eu maduro ou imaturo


Se comparado com a higiene física, ainda somos homens das cavernas em termos de controle e maturidade mental. Basta perceber quantas vezes escovamos os dentes ou tomamos banho - a cada 4 e 20 horas em média, respectivamente - e quantas vezes trabalhamos a saúde mental.

Quantas pessoas você conhece que estão cobertas por um seguro saúde? Muitas, provavelmente. E quantas têm seguro mental? Em geral seguramos aquilo que nos é caro. O “Eu” deve enquadrar, revisar, reinterpretar experiências anteriores. As pessoas ainda não se atentaram para o valor da saúde mental nem como gerenciar essa ansiedade. O “Eu” é como um espectador na plateia de um teatro. Assistindo uma peça na qual os nossos processos mentais automáticos são os protagonistas. O desafio é inverter essa lógica.


A tese de Sartre: Condenados a ser livres


Seria essa uma teste exageradamente romântica do filósofo francês? Pense da seguinte forma. Ninguém pode controlar a mente. Por mais que um presidiário tenha seu corpo confinado, sua mente pode ir para onde quiser. Por isso a teoria desenvolvida faz todo sentido e rendeu fama ao seu autor.

Construímos pensamentos a partir do corpo de informações disponível somado ao estímulo recebido. Esse corpo de informações é a nossa base de dados. Hoje adultos, tomamos decisões racionais mas em muitos níveis apoiados nessa base de dados. Rejeições, frustrações, crenças, experiências do que “deu certo” antes. Tudo fica armazenado e um novo estímulo aciona o banco de dados. O pensamento é a combinação entre os dois e a reação é reflexo do pensamento. Em termos sociológicos é a mesma coisa, funciona igual quando pensamos em comunidades e sociedades. Culturas inteiras carregam o seu histórico e agem, até certo ponto, por causa do que aconteceu no passado. O auto fluxo é o pensamento inconsciente, como um piloto automático, um terrorista a bordo do nosso avião.


Onde a humanidade se encontra na ciência do pensamento


Nomes como Piaget, Paulo Freire, Jung, Freud, Skinner, dentre outros grandes nomes da Filosofia e da Psicologia construíram teorias brilhantes sobre formação de personalidade, educação e aprendizado. Mas pouco sobre o que pode ser considerada a próxima fronteira do entendimento da mente: O pensamento. Depois de muitos anos estudando e praticando experiências com o pensamento Cury desenvolveu a TIM - Teoria da Inteligência Multifocal. Investigar o pensamento permite-nos um conhecimento mais aprofundado sobre o ser humano e como ele reage. Entender os motivos de cada reação e com quais partes da nossa mente ele se relaciona permite-nos sair da doença generalizada que acomete a nossa sociedade - o SPA.

A despeito de estarmos avançados em Psiquiatria e Medicina não conseguimos lidar com nossos pensamentos. Estamos no apogeu da indústria do lazer, mas nunca convivemos com tanta depressão. Estamos na era do conhecimento, mas nunca produzimos tanta repetição. De maneira impressionante, nem Einstein escapou. Seu pensamento complexo foi passado para a próxima geração, mas em seu filho gerou um comportamento psicótico. Ao interná-lo em um manicômio ele se rendeu. O homem que atingiu o ápice do conhecimento do universo não conseguiu vencer um campo de conhecimento ainda mais complexo com seu próprio filho: o pensamento humano.


Quem somos? Teses fundamentais


Somos tão complexos que quando não temos problemas nós os criamos. É necessário um choque de lucidez em sua psique e seus pensamentos, a higienização da mente. As pessoas hoje em dia costumam se cobrar demais, exigir demais de si mesmas. Esse exagero pode ser bom para a empresa, mas é ruim para si mesmo. Na maioria dos casos somos prisioneiros da própria mente. A Teoria de Inteligência Multifocal (TIM) embasa-se em uma série de teorias e anos de estudo e pesquisa. Um “Eu” maduro não orbita outras pessoas, não sente ciúmes e não exige que as pessoas vivam em sua volta.

Ele está em harmonia. O “Eu” maduro entende com clareza que não existe interpretação pura, a realidade não se apresenta de uma forma estável e lógica. A percepção, a forma como nossa base de dados interpreta a realidade é ela própria formadora da realidade. As pessoas, mesmo profissionais qualificados, não entendem as armadilhas do pensamento. Desconhecem que ele é virtual, percebido, existe a partir da experiência. A ignorância do aspecto virtual do pensamento gera decisões erradas e diagnósticos que aprisionam mais do que liberam os pacientes. O principal erro é a dificuldade de se colocar no lugar dos outros, a falta de empatia, ela é o único caminho e forma para evoluir.


Pare, observe-se, enxergue-se


As estatísticas não negam. Mais de 80% das pessoas, e esse é um número absurdo, são diagnosticadas com sintomas de timidez e insegurança. A hiperatividade e a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) têm sintomas muito parecidos. Entretanto, enquanto a primeira tem raízes majoritariamente genéticas a segunda é bem mais um resultado do estilo de vida. A principal perda causada pela SPA é a dificuldade de empatia e de pensar antes de agir. A rapidez estimula a viver de forma destrutiva e sem perceber o que está acontecendo. Os sábios sabem lidar com a derrota e com a vitória, sem entrar em êxtase a cada sucesso, embora desfrutando-o. E também sem entrar em depressão a cada fracasso. A variação emocional costuma ser menor quando o “Eu” é maduro. Construímos pensamentos por meio de três processos interrelacionados: as janelas de memória, o gatilho da memória e o autofluxo. Nós não conseguimos controlar a mente como controlamos um carro. Eventualmente, viramos a mente para a esquerda e ela vai para a direita. Não somos autônomos e não somos livres.

Nosso cérebro funciona como uma linha automática de construção de pensamento. Freud estudou e abriu as portas do inconsciente para o mundo. Mas pouco se aprofundou no auto fluxo. Trata-se de um processo de conexão das diversas janelas de memória com o gatilho. Construindo cenários, interpretações, linhas de ação e trajetos. Desafiando o futuro e tentando prever o que vai acontecer. No meio disso tudo, o “Eu” fica paralisado, sem saber como agir. Ele tem diversos papéis, mais de 25, dentre os quais: se autoconhecer, mapear suas mazelas psíquicas, ter consciência crítica, ser autônomo, gerenciar pensamentos, qualificar as imagens mentais, gerenciar emoções, criar pontes sociais, aprender a dialogar, reciclar a influência, reeditar as janelas killer, pensar antes de fazer, desenvolver resiliência, pensar como humanidade, gerenciar a SPA, aprender a não ser vítima do circuito fechado da memória, dentre outras atribuições. A educação tradicional não desenvolve o “Eu”, assim, na maioria dos casos, ele não assume nem 10% das suas funções.


O “Eu” e o auto fluxo: Parceiros ou inimigos


O auto fluxo é essencial para a busca do prazer. Somos seres em busca do prazer, incessantemente. Por isso, quando esse fluxo cessa gera uma abstinência e um sentimento de inutilidade. Quando saudável o “Eu” enxerga a grandeza da existência, pauta sua existência pela flexibilidade e capacidade de mostrar seus pensamentos sem imposição. É determinado, líder de si, dá um choque de inteligência na construção de pensamentos. Existem seis principais tipos de “Eu”. O gerente, que conhece e consegue gerenciar seus pensamentos em auto fluxo. O desconectado, que simplesmente se deixa levar pelo que for proposto pelos sistemas automáticos. O flutuante não tem certeza sobre onde quer chegar, deixa outras pessoas tomarem as decisões por si. O engessado, robotizado, defende seus pontos de vista de forma cega e está geralmente preso em crenças e modelos mentais. O autossabotador, que não consegue parar de se cobrar, exige de si mais do que pode entregar e olhe sua própria liberdade. E, por fim, o “Eu” acelerado, entulhado de mais informações do que é capaz de absorver. O “Eu” pode ser gerenciado e trabalhado. Apesar de não ser tão simples como no computador, onde deletamos o que quisermos quando quisermos. Um mesmo “Eu” pode ter várias interfaces, positivas e negativas. Que se alternam ao longo do tempo.


A síndrome do pensamento acelerado


É a maior epidemia psicológica do mundo moderno. O problema não é apenas o conteúdo pessimista dos pensamentos, mas também a velocidade deles. A humanidade tomou o caminho errado. Gerando incontáveis pessoas com Burnout, TOC e síndrome do pânico. Mas a SPA é mais abrangente e difícil de tratar. Gera ansiedade, mente inquieta, insatisfação, cansaço físico extremo, irritabilidade e flutuação emocional, dificuldade de desfrutar a rotina, dor de cabeça, dor muscular, déficit de concentração e memória.

As principais causas da SPA são excessos. De informação, atividade, trabalho intelectual, preocupação, cobrança, uso de celulares e computadores. Nesse contexto, o principal problema, sem dúvida, é o excesso de informações.. Nas crianças o efeito é ainda pior. TV, smartphone, computador, tablet, videogame. Um criança de sete anos hoje deve consumir em um mês mais do que Platão consumiu em uma semana. As crianças perderam o tempo para ficar off-line e não conseguimos educar, criando situações cada vez mais desafiadoras para os educadores. Esses também precisam trabalhar as suas próprias janelas. Está cada vez mais difícil ter atenção das próximas gerações. Porque essa geração é acompanhada por uma infinidade de opções ao toque dos dedos, e a competição é injusta.


Os níveis de SPA


É importante automatizar e acelerar a construção de infraestrutura, telecomunicações e transporte. Mas nunca do pensamento. O auto fluxo, antes maior fonte de prazer e deleite do ser humano, tornou-se uma prisão. A SPA pode atingir níveis críticos, mas também é possível observar seu desenvolvimento desde o começo. O primeiro nível é apenas viver distraído, o que acontece com parte do maior grupo de pessoas vivendo com SPA.

O segundo nível é quando começa a ficar difícil aproveitar a trajetória. Tudo passa a ser desagradável e chato.

O terceiro é o culto ao tédio. Não apenas desinteressante, mas agora os problemas são ainda mais evidentes, nesse estágio dá-se mais atenção e foco aos problemas.

O quarto nívelenxerga-se quando a paciência com pessoas mais lentas é escassa.

O quinto nível é composto por aquelas pessoas que planejam as férias com muita antecedência. As férias anteriores não foram suficientes para descansar e elas começam a pensar já nas próximas.

No sexto nível o foco é a aposentadoria, a pessoa pensa diariamente em quando vai se aposentar, contando mês a mês.


Consequências da SPA


Envelhecimento precoce da emoção é o primeiro. Caracterizado pela insatisfação crônica. Pessoas com SPA reclamam, são impacientes com quem pensa diferente, não curtem os momentos, falta disciplina. Em muitos casos a idade biológica descola da idade mental, emocional. Adultos estacionados em asilos emocionais, jovens com idade emocional avançada, bem como idosos com idade emocional jovem, saindo, vivendo, aproveitando.

Em um contexto de SPA o “Eu” tem dificuldade de amadurecer. As pessoas não conseguem evoluir as faculdades do ser. Essa imaturidade apresenta-se em forma de individualismo e egocentrismo. O “Eu” maduro é firme, decidido e empático. A SPA, muito pelos problemas descritos, gera desequilíbrios emocionais e problemas psiquiátricos. As pessoas têm dificuldade de assumir as suas vontades e enfrentar os seus desafios, as consequências são doenças psicossomáticas, comprometimento de criatividade, do desempenho intelectual, relações sociais deterioradas, dificuldade de trabalho em equipe.


Como gerenciar a SPA


São oito principais técnicas para que esse gerenciamento seja efetivo.

A primeira é capacitar o “Eu” para ser protagonista. Apesar de não sermos 100% livres como Sartre ou Paulo Freire previam, é possível melhorar a situação com um “Eu” mais forte. É importante ser livre para pensar, mas não ser escravizado pelo pensamento.

A segunda forma de gerenciar o SPA é sempre ter métodos para escapar dos pensamentos negativos.

A terceira é gerenciar o sofrimento antecipado, evitar sofrer pelo que ainda não aconteceu.

A quarta é higienizar a mente com o método DCD - Duvidar, criticar e decidir. A dúvida é a origem de todo o conhecimento, a crítica permite modificar nosso pensamento. E por fim decidir de forma estratégica.

A quinta técnica é reciclar as falsas crenças. Identificar no que acreditamos que não é mais verdade e se desfazer de imediato dessas crenças.

A sexta ferramenta é evitar ser uma máquina de trabalhar. Claro que o trabalho é importante, mas não é exclusivo.

A sétima é não ser uma máquina de absorver informações. Lembrando que não é a quantidade de dados que garante a excelência mental, mas sim a qualidade dessas informações.

A oitava e última técnica consiste em não menosprezar a importância da qualidade de vida. Evitar trair o sono, o diálogo com outras pessoas e os momentos importantes. Ao usar essas técnicas diariamente podemos saldar nossas dívidas e melhorar gradativamente nossa atenção, reduzindo assim a ansiedade.

Notas finais

O conceito de percepção e formação de pensamento é estudado por diversos autores. É possível encontrar na Psicologia, na Filosofia, na Sociologia e nos Negócios algo mais ou menos parecido.


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